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domingo, 27 de março de 2011

Não te esqueças de mim!



Não te esqueças de mim, quando erradia
Perde-se a lua no sidéreo manto;
Quando a brisa estival roçar-te a fronte,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.

Não te esqueças de mim, quando escutares
Gemer a rola na floresta escura,
E a saudosa viola do tropeiro
Desfazer-se em gemido de tristura.

Quando a flor do sertão, aberta a medo,
Pejar os ermos de suave encanto,
Lembre-te os dias que passei contigo,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.

Não te esqueças de mim, quando à tardinha
Se cobrirem de névoa as serranias,
E na torre alvejante o sacro bronze
Docemente soar nas freguesias!

Quando de noite, nos serões de inverno,
A voz soltares modulando um canto,
Lembre-te os versos que inspiraste ao bardo,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.

Não te esqueças de mim, quando meus olhos
Do sudário no gelo se apagarem,
Quando as roxas perpétuas do finado
Junto à cruz de meu leito se embalarem.

Quando os anos de dor passado houverem,
E o frio tempo consumir-te o pranto,
Guarda ainda uma ideia a teu poeta,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.
Fagundes Varela

sábado, 2 de outubro de 2010

Aprendi com você ...

Aprendi com você
A olhar a vida com mais cuidado.
Dar a ela o valor merecido,
Agradecer por simplesmente ter despertado!
Aprendi com você
A perceber pela fresta de minha janela
Um fio de luz, no alvorecer, suplicando para entrar,
E suavemente invadido ela!
Aprendi a escancarar a porta e forte respirar
Sentir os cheiros marcantes do alvorecer,
Ouvir a melodia suave e compassada
De um lindíssimo amanhecer!
Aprendi com você!
A fazer rima e verso.
Para gritar meu imenso amor,
Tornei-me um poeta de teu universo!
Aprendi com você:
Que sonhos são realidade,
Que o impossível não existe,
Que quando a paixão nosso peito invade,
Somos um misto de fantasia e saudades!
Ah! Meu amor contigo aprendi 
A conjugar o verbo amar... aprendi a sonhar.
Aprendi com você que existe eternidade.
Que um grande sentimento como o nosso,
Arrasta pela existência,
Todos os momentos de Felicidade .

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Apenas ,

Se tento, eu não consigo.
Cada vez que fujo, só acabo estando mais perto.
Se tento esquecer-te, acabo te encontrando em outro olhar;
E por que?
Por que teu rosto invade meus pensamentos?
Por que teu sorriso me traz a memória o que passamos juntos?
Por que te sinto aqui?
Ou talvez, eu não te sinta.
São apenas reações.


Eu até penso se teu coração me chama,
E devido a isso o meu estaria tentando responder ..
São apenas suposições.
É ruim te perder de vista te amando,
E quando tento te esquecer, retorno ao mesmo lugar...
A mesma posição de escolha: por onde ir?

Onde estão as respostas?
Será que eu as encontrarei?
Ou talvez elas estejam diante de meus olhos, ...
São apenas invisíveis.

Sentimentos que vêm e que vão..
Que tomam seus cursos, que nos invadem,
Nos consomem.
Onde encontrá-los? Onde desistir deles?
Como persegui-los?
São apenas questionamentos,

Apenas.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Vem sentar-te comigo, amor, à beira do rio

Vem sentar-te comigo, amor, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois, pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer nos alegremos, quer não nos alegremos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada teria que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no colo.

Fernando Pessoa (como Ricardo Reis)
Adaptado do original vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Como diria Carlos Drummond de Andrade ..

Sentimento do Mundo

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
Eu ficarei sozinho
Desfiando a recordação
do sincero, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite

Carlos Drummond de Andrade - 1935

segunda-feira, 1 de março de 2010

Pensamentos ...

Essa eu não poderia deixar de postar .. Enquanto lia uns sonetos de Shakespeare, um pensamento dele me chamou atenção..

"Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas;
Apenas as mesmas com novas vestimentas."
William Shakespeare

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Antiga Dor

O subtil, o reflexo, o vago, o indefinido,
Tudo o que o nosso olhar só vê por um momento
Tudo o que fica na Distância diluído,
Como num coração a voz do sentimento.

Tudo o que fica no lugar onde termina
Um amor, uma luz, uma canção, um grito,
A última onda duma fonte cristalina,
A última nebulosa etérea do Infinito...

Esse país aonde tudo principia
A ser névoa, a ser sombra ou vaga claridade,
Onde a noite se muda em clara luz do dia,
Onde o amor começa a ser saudade;

O longínquo lugar aonde o que é real
Principia a ser sonho, esperança, ilusão;
O lugar onde nasce a aurora do Ideal
E aonde a luz começa a ser escuridão...

A última fronteira, o último horizonte,
Onde a Essência aparece e a Forma terminou...
O sítio onde se muda a natureza inteira
Nessa infinita Luz que a mim me deslumbrou!...

O indefinido, a sombra, a nuvem, o apagado,
O limite da luz, o termo dum amor,
Tornou o meu olhar saudoso e magoado,
Na minha vida foi minha primeira dor...

Mas hoje, que o segredo oculto da Existência,
Num momento de luz, o soube desvendar,
Depois que pude ver das coisas a essência
E a sua eterna luz chegou ao meu olhar,

Meu infinito amor é a Alma universal,
Essa nuvem primeira, essa sombra d'outrora...
O Bem que tenho hoje é o meu amigo Mal,
A minha antiga noite é hoje a minha aurora!...


Teixeira de Pascoaes (in. Sempre, 1898/1902)